e-ISSN:2172-7910
Doi:10.25267/Hachetetepe.2020.i21.10
Universidad de Cádiz 99
visibilidade dessas mulheres que estavam no silêncio histórico. O método biográfico
permite compreender os caminhos indissociáveis das mulheres como sujeitos ativos na
sociedade, contribuindo assim com um novo olhar sobre o gênero feminino e suas
vinculações aos diversos cenários da história brasileira. O livro conta o percurso de
mulheres tomando como ponto de análise suas relações com a instrução feminina, o
pioneirismo do movimento feminista, as trajetórias educacionais, bem como as relações
de gênero e a biografia como método históriográfico. A obra expõe relatos e trajetórias
que envolvem a especificidade das biografadas no imbricamento com seus contextos
histórico-sociais, exemplificados na relação com a capoeira e sua cultura (p. 72), na morte
de dois jovens na conjuntura da sociedade patriarcal e machista do estado paraibano do
século XX (p. 87), na narrativa sobre a ciência e a política representada através da
biografia de uma feminista (p. 109), nas experiências formativas de uma educadora
freiriana (p. 123), ou ainda na memória de uma militante política no contexto histórico
pós-golpe militar de 1964 (p. 138).
Percebe-se na obra as referências de como os autores fizeram o levantamento e o
tratamento das fontes, sobretudo das fontes orais, do uso de livros e outros registros de
memórias. Relaciona-se através do método biográfico a dialética entre o contexto social
e a atuação de aproximação ou distanciamento do indivíduo em determinado contexto. A
biografias são pertinentes para tratar de temas como cultura, personalidade, gerações e
gênero.
O primeiro capítulo retrata as contribuições de Ana de Barandas em estudos sobre
gênero, divórcio e educação feminina, e em inserções nas narrativas históricas da guerra
de farrapos. A pesquisa utiliza a metodologia da história oral complementada com outras
fontes documentais e imagéticas, artigos científicos e livros. Propõe compreender a
relação entre a biografada e o ensino feminino, a formação de professores e a importância
da educadora Barandas como precursora de ideias feministas. Além disso, o capítulo
ressalta a participação significativa da biografada para a história da educação, mediante
análise das nuances e possibilidades da educação feminina no Rio Grande do Sul do
século XIX.
O segundo capítulo desvela a biografia de Piedade Medeiros e o elo com a história
da educação na Paraíba. Sua contribuição se deu na publicação de livros didáticos sobre
a cultura regional. A abordagem teórico-metodológica utilizada pelos autores se ancoram
na nova história cultural e na história oral, que auxiliam na organização das narrativas da
biografada, Piedade Medeiros. Define o percurso metodológico da história oral
referenciado em Delgado (2006) e a dimensão das ausências de pesquisas sobre mulheres
a partir do olhar de Barcelar (2006), que ressalta a intencionalidade em negar e excluir o
estudo sobre mulheres propositadamente, para atender ao interesse hegemônico
masculino.
No terceiro capítulo, o autor Rodrigues desenvolve uma associação entre biografia
e gênero. Parte da proposição de que a biografia como gênero histórico e literário foi
negligenciada pela academia, porém, que o grande interesse do público prestigiou a
produção desse gênero. O autor apresenta o sentido metonímico da biografia, onde busca-
se conhecer o todo (a sociedade) pelas partes (os individuos com suas singularidades e
diferentes atuações). Divide os tipos de biografias entre personalistas, contextualizadas
historicamente ou das elites (p.58). Infere que a biografia é uma metodologia com
potencialidade de diálogo entre o individual e o social (p. 61) e que, com os estudos