El asentamiento emiral de Kūra de al- Qaṣr (Alcácer do Sal, Portugal)

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https://doi.org/10.25267/AAM.2024.v31.102

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25-48
Publicado: 19-12-2024
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Resumen

O presente estudo dá a conhecer a rede de povoamento e a organização espacial do território de Alcácer do Sal durante o Período Emiral. No decorrer da cronologia mencionada a região foi alvo de vários acontecimentos políticos e militares, de que é exemplo os ataques vikings e as rebeliões nas zonas limítrofes contra o Califado de Damasco e, posteriormente, contra o Emirado de Córdova, que influenciaram o modo como as comunidades se implantaram naquela área geográfica. Tendo como objectivo compreender o modo como as populações se organizaram no espaço e de que forma os episódios referidos atuaram nessa mesma disposição, consultou-se as fontes escritas islâmicas e cristãs, à semelhança dos registos cartográficos e topónimos, tendo-se, de igual modo, procedido a trabalhos de prospecção extensiva no terreno e escavações arqueológicas em quatro dos sítios identificados. Através da distribuição e implantação dos assentamentos, bem como da análise das estruturas e cultura material daquelas comunidades, foi possível compreender o modelo de ocupação na cronologia referida. 

Palabras clave

Gharb al-Andalus, Povoamento, Fortificações, Comunidades Rurais, Cultura Material

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O POVOAMENTO Emiral d A K Ū RA DE al-QA R ( Alcácer do Sal , Portugal)

THE EMIRAL SETTLEMENT S OF THE KŪRA OF AL-QAṢR (ALCÁCER DO SAL, PORTUGAL)

(البرتغال, ALCÁCER DO SAL ) المستوطنات الأميرية في كورة القعر

Marta Isabel Caetano Leitão

Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa

História, Territórios e Comunidades do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra

Recibido: 26/04/2023Aceptado: 08/04/2024

BIBLID [1133-8571] 31 (2024) 25-48

Resumo: O presente estudo dá a conhecer a rede de povoamento e a organização espacial do território de Alcácer do Sal durante o Período Emiral. No decorrer da cronologia mencionada a região foi alvo de vários acontecimentos políticos e militares, de que é exemplo os ataques vikings e as rebeliões nas zonas limítrofes contra o Califado de Damasco e, posteriormente, contra o Emirado de Córdova, que influenciaram o modo como as comunidades se implantaram naquela área geográfica. Quando iniciámos esta investigação não eram conhecidos assentamentos muçulmanos na região, porém a importância daquele território era notória nos registos das fontes árabes e pelos testemunhos arqueológicos descobertos na cidade. Várias questões surgiram no início do projecto, nomeadamente: Como se organizava o território no Período Muçulmano naquela zona ocidental do Ġarb al-Andalus? Que medidas empreenderam as comunidades rurais e os poderes regional e central para se protegerem dos ataques vikings e das rebeliões da 1ª fitna? Com a chegada dos muçulmanos teria havido uma ruptura com o modelo de povoamento anterior? Como era a relação entre a cidade e o campo? Tendo como objectivo compreender o modo como as populações se organizaram no espaço e de que forma os episódios referidos atuaram nessa mesma disposição, consultou-se as fontes escritas islâmicas e cristãs, à semelhança dos registos cartográficos e topónimos, tendo-se, de igual modo, procedido a trabalhos de prospecção extensiva no terreno e escavações arqueológicas em quatro dos sítios identificados. Através da distribuição e implantação dos assentamentos, bem como da análise das estruturas e cultura material daquelas comunidades, foi possível compreender o modelo de ocupação na cronologia referida, tendo-se constatado uma permanência nos locais entre os Períodos Tardo-Romano e inícios do Islâmico, mas também o investimento na construção de fortificações a partir do Emirado para controlo e defesa do território.

Palavra(s)-chave: Ġarb al-Andalus, Povoamento, Fortificações, Comunidades Rurais, Cultura Material.

Abstract: The present study reveals the settlement network and spatial organization of the territory of Alcácer do Sal during the Emiral Period. Throughout the mentioned timeline, the region experienced various political and military events, such as Viking attacks and rebellions in the border areas against the Caliphate of Damascus and later against the Emirate of Córdoba, which influenced how communities established themselves in that geographical area. When we began this investigation, there were no known Muslim settlements in the region. However, the importance of that territory was evident in the records of Arab sources and the archaeological evidence discovered in the city. Several questions arose at the beginning of the project, namely: How was the territory organized during the Muslim period in that western area of Ġarbal-Andalus? What measures did rural communities and regional and central powers undertake to protect themselves against Viking attacks and the rebellions of the 1st Fitna? Did the arrival of Muslims lead to a rupture with the previous settlement model? What was the relationship between the city and the countryside? With the aim of understanding how populations organized themselves in space and how the mentioned events influenced that organization, Islamic and Christian written sources were consulted, as well as cartographic records and place names. Extensive field surveys and archaeological excavations were also conducted in four of the identified sites. Through the distribution and establishment of settlements, as well as the analysis of structures and material culture of those communities, it was possible to understand the occupation model within the mentioned timeline. A continuity of occupation was observed between the Late Roman and early Islamic periods, but there was also an investment in the construction of fortifications from the Emirate onwards for the control and defense of the territory.

Keywords: Ġarbal-Andalus, Settlement, Fortifications, Rural Communities, Material Culture.

الملخص:يكشف الدراسة الحالية عن شبكة التوطين وتنظيم الفضاء في أراضي ألكاسير دو سال خلال الفترة الإمارية. خلال الجدول الزمني المذكور، شهدت المنطقة العديد من الأحداث السياسية والعسكرية، مثل هجمات الفايكنج والثورات في المناطق الحدودية ضد خلافة دمشق ولاحقًا ضد إمارة قرطبة، والتي أثرت على كيفية تأسيس المجتمعات في تلك المنطقة الجغرافية. عند بدء هذه الدراسة، لم يكن هناك أي استيطان معروف للمسلمين في المنطقة. ومع ذلك، كانت أهمية تلك الأراضي واضحة في سجلات المصادر العربية والأدلة الأثرية المكتشفة في المدينة. طُرحت العديد من التساؤلات في بداية المشروع، على وجه الخصوص: كيف تم تنظيم الأراضي خلال الفترة الإسلامية في تلك المنطقة الغربية من غرب الأندلس؟ ما هي الإجراءات التي اتخذتها المجتمعات الريفية والسلطات الإقليمية والمركزية لحماية أنفسهم من هجمات الفايكنج وثورات الفتنة الأولى؟ هل أدت وصول المسلمين إلى انقطاع مع نموذج التوطين السابق؟ ما هي العلاقة بين المدينة والريف؟ بهدف فهم كيفية تنظيم السكان لأنفسهم في الفضاء وكيفية تأثر تلك الأحداث المذكورة على ذلك التنظيم، تم استشارة المصادر الكتابية الإسلامية والمسيحية، بالإضافة إلى السجلات الخرائطية وأسماء الأماكن. تم أيضًا إجراء مسوحات ميدانية شاملة وحفريات أثرية في أربعة من المواقع المحددة. من خلال توزيع.

الكلمات المفتاحيّة: غرب الأندلس، استيطان، تحصينات، تجمعات ريفية، ثقافة مادية.

A cidade de Alcácer do Sal ergue-se num imponente cerro, sobranceiro ao rio Sado, destacando-se numa paisagem marcada por planícies e algumas formações montanhosas visíveis da actual colina do castelo. As intervenções arqueológicas ali efectuadas, entre 1993 e 1997, sob a direcção do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico e da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, permitiram verificar uma longa ocupação humana desde a Idade do Ferro até à Idade Moderna (Leitão, 2017: 5). Durante o Período Muçulmano, particularmente a partir do Califado de Córdova, Alcácer dominava um extenso território, desde os montes Banu Benamocer, ou seja a Serra da Arrábida até, possivelmente, à cordilheira montanhosa Grândola-Cercal, um domínio territorial que já perdurava desde o Alto Império Romano (Baião et all., 1940: 61; Lévi-Provençal e Garcia Gómez, 1950: 158).

Parte do estudo que agora se apresenta insere-se no âmbito do meu projecto de doutoramento intitulado: “A organização do Território no Sudoeste do Ġarb Al -Andalus – povoamento rural e paisagens fortificadas na kūra de Alcácer do Sal”, sob a orientação científica da Professora Doutora Rosa Varela Gomes e financiado pela FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/117606/2016; COVID/BD/151702/2021) (Leitão, 2023). No decurso daqueles trabalhos, para além do reconhecimento de distintos sítios arqueológicos, tivemos oportunidade de realizar sondagens e escavações arqueológicas em quatro daqueles locais identificados, nomeadamente nas Atalaias de Abul e Murta, no Castelo de Vale de Trigo e na Alcaria de São Lourenço, que demonstraram uma cronologia no Emirado, revelando, contudo, alguns deles, uma ocupação anterior (Leitão, 2023: 68-159).

O território de Alcácer é caracterizado essencialmente por uma vasta planície composta por algumas formações montanhosas e pela importante bacia hidrográfica do rio Sado. O curso daquele rio, nas áreas correspondentes ao Médio e Baixo Sado, atravessa essencialmente terrenos de formação geológica recente datáveis do Médio e Final do Cenozóico. Na sua margem esquerda, particularmente a Sul e Oeste de Alcácer, estende-se uma vasta planície, caracterizada por terrenos pouco consolidados e arenosos, sobretudo à medida que nos aproximamos do estuário, e por duas formações montanhosas, como a Serra de Grândola-Cercal e, junto à foz, a Serra da Arrábida (Carvalho, Faria e Ferreira, 2008: 16-18). Na margem direita do rio Sado, a Leste e, sobretudo, a Norte da cidade, predominam os acidentes geográficos com solos xistosos e pouco férteis, embora na sua envolvência, exista conjunto de outros cerros de menor altitude, junto a cursos de água, que formam vales com solos bastante férteis para a agricultura e que foram propícios à fixação humana.

O conjunto de vias terrestres que uniam aquela cidade a Lisboa, Évora e Beja e, particularmente, a via fluvial do rio Sado, navegável até Porto Rei, a cerca de trinta quilómetros da cidade, possibilitava os contactos com o hinterland, permitindo ainda a realização de trocas comerciais com o exterior, por vezes mesmo a longa distância. Os vários portos fluviais ao longo das margens do rio, existentes naquela zona desde o Período Romano, permitiam a deslocação das populações rurais à cidade, criando uma rede de ligações comerciais que caracterizariam o quotidiano da urbe.

A importância do rio é patente nas fontes islâmicas, nomeadamente nos inícios do século XII, quando Alcácer do Sal é referida pelo geógrafo al-Idrîcî pela relevância da sua ligação ao rio Sado: “Alcácer do Sal (al-Qar) é uma cidade bonita, de grandeza média, banhada pelas águas do nahr Satubar (rio de Setúbal/rio Sado). Grande rio que é navegado por grande número de embarcações e navios destinados a viagens.” (Idrîcî, 1999: 263-264).

A partir do Baixo Império Romano, a cidade entrou em declínio, particularmente a partir do século III d.C., conforme se constatou nas escavações ali efectuadas que demonstraram escassa presença de fragmentos cerâmicos de terras sigillatas claras tardias (Carvalho, 2006: 308). Não obstante foi encontrado na metrópole alguns elementos arquitectónicos, como uma epígrafe e pilastra, datados do século VII, possivelmente relacionados a uma igreja visigótica que terá existido no local, mas também algumas cerâmicas, com pastas grosseiras, fabricadas a torno lento atribuídas ao Período Visigótico, evidenciando a manutenção dos edifícios romanos durante a Alta Idade Média (Cottart e Carvalho, 2010: 188; Pereira, 2000: 36).

Com a chegada dos muçulmanos, a partir de 711, o território de Alcácer é integrado no Califado de Damasco, em 713-714, através das campanhas militares de ˁAbd al-ˁAzīz que culminaram com as conquistas das cidades de Évora e Lisboa (Paixão et alii, 2001: 198). Na zona da Arrábida, nomeadamente em Espichel/Azoia, mas também em Alcácer(), foram encontradas moedas de origem Omíada e Abássida, do século VIII, que atestam a presença muçulmana, logo após a conquista, naquela área geográfica (Fernandes, 2004: 60; Picard, 2000: 194). Alcácer esteve durante esta fase no seio das revoltas muladís, berberes e árabes, ocorridas nas cidades de Beja, Lisboa e Mérida, contra o Califado de Damasco e, posteriormente, o Emirado de Córdova instaurado por ˁAbd al-Raḥmān I (Coelho, 2008: 111-150).

Em 844 ocorre o primeiro ataque viking na região de Lisboa, prosseguindo aqueles as incursões por Beja e Costa Algarvia, voltando novamente os mesmos, uns anos mais tarde, em 858 e 859, a atacar Lisboa e as costas de Beja, bem como possivelmente Alcácer, não encontrando nenhuma resistência nessas zonas. É a partir destes acontecimentos que o poder emiral de Córdova, sob o domínio de ˁAbd al-RaḥmānII, começa a investir na defesa das zonas litorais do ocidente do al-Andalus, instalando naquelas uma rede de atalaias e ribats, assim como estaleiros de construção naval, para controlo e protecção daquelas zonas, fazendo com que Alcácer cresça no século X, tornando-se sede de kūra(Correia, 2013: 74). Moedas Omíadas, cunhadas nos reinados de ˁAbd al-RaḥmānII e Muammad I, descobertas em Alcácer do Sal() comprovam a presença do poder central de Córdova, logo após o primeiro ataque viking e antes da chegada dos Banū Dānis, naquele território ocidental.

Após dotar Alcácer e o seu território de todos os equipamentos necessários para a sua defesa, os Omíadas decidem colocar no poder, a família berbere dos Banū Dānis, anteriores aliados de Córdova, que tinham estado à frente dos domínios da cidade de Coimbra, possuindo, deste modo, uma vasta experiência na governação das sedes militares de fronteira e na colheita de impostos entre uma população que era, maioritariamente, cristã (Felipe, 1997: 90-91). Com a instalação do Califado de Córdova, em 929, Alcácer do Sal encontrava-se sob o domínio califal, tendo ˁAbd al-RaḥmānIII confirmado Yayā b.Abī Dānis à frente do governo de Alcácer e o seu sobrinho ˁAbd Allāh b. ˁUmar b. Abī Dānis como governador das dependências montanhosas, nomeadamente do Castelo de Palmela (Lévi-Provençal e Garcia Gómez, 1950: 158).

Com base nas informações históricas obtidas de fontes documentais e considerando o contexto político e militar que caracterizou a região em estudo, era nossa convicção inicial que o território de Alcácer teria sido objecto, ao longo do período cronológico em questão, de um esforço na construção e estabelecimento de novas fortificações e postos de vigia. Aqueles empreendimentos visavam não só proteger e defender as principais vias terrestres e marítimas, mas também salvaguardar as comunidades que habitavam os assentamentos rurais. Esses eventos, provavelmente, resultariam em alterações no padrão de povoamento, incluindo o abandono de alguns núcleos rurais do período Tardo-Romano e o surgimento de novas formas de ocupação e exploração do território. Para investigar essa hipótese, foram levadas a cabo prospecções arqueológicas em áreas de alto potencial arqueológico, alguns dos quais mencionados em documentos históricos ou com topônimos pertinentes. Além disso, utilizamos os dados de escavações prévias realizadas em sítios romanos no território, e efectuámos novas escavações em quatro locais identificados como promissores: as Atalaias de Abul e Murta, o Castelo de Vale de Trigo e a Alcaria de São Lourenço. A análise combinada desses dados, juntamente com o exame global do território, incluindo a distribuição espacial dos sítios e os artefactos recuperados durante os trabalhos, permitiu-nos formular uma visão abrangente do padrão de povoamento rural em Alcácer do Sal durante o Emirado.

Com a chegada dos muçulmanos à Península Ibérica, em 711, o povoamento no território de Alcácer não sofreu, no imediato, grandes oscilações mantendo-se ocupadas algumas das antigas villae dispersas pelo território, como Santa Catarina de Sítimos, onde as escavações arqueológicas ali efectuadas, entre 2006 e 2016, permitiram documentar a existência de compartimentos com sobreposição de muros e corte de outras divisões, em resultado das distintas reocupações naquele local. Ali recolheram-se alguns fragmentos de cerâmicas de características visigóticas e emirais, com abundantes elementos não plásticos e fabricados com pastas locais, apresentando decoração incisa (Carvalho, 2008: 20).

Outra villa que se manteve ocupada até ao Período Islâmico foi São João dos Azinhais, junto ao Torrão, onde terá existido um templo dedicado a Júpiter Óptimo Máximo (Faria, 2002: 80). O sítio permaneceu habitado no Período Visigótico, tendo sido aquele templo, possivelmente, transformado numa basílica paleocristã, conforme sugerem as pilastras e uma inscrição, dedicada aos Santos Justo e Pastor, datada de 682 d.C. (ERA DCCXX), descobertas no interior da actual ermida que se situa no local (Almeida et alli, 1978: 218-220). Todavia, para Mário Barroca aquela inscrição data de 882 d.C. (ERA DCCCCXX) e não 682 d.C., uma vez que mesma encontra-se fracturada, faltando-lhe o ângulo inferior direito no espaço equivalente a duas letras, não sendo, de igual modo, conhecida, até ao momento, nenhuma inscrição paleocristã em território português, a não ser em contexto funerário. Para além disso, segundo o mesmo investigador o tipo de letra utilizada, como é exemplo os BB, é caracteristicamente moçárabe (Barroca, 2000: 22-27). A comprovar-se a veracidade destas últimas afirmações estaremos perante um templo das comunidades moçárabes que habitavam Alcácer, mantendo os seus costumes e religião livremente, sob o domínio islâmico. Em fase posterior, particularmente nos Períodos Almorávida e Almóada, aquele edifício cristão terá sido adaptado, possivelmente, a um espaço de vigilância, de características militares, mas também religiosas.

Durante os trabalhos de prospecção que efectuámos no território identificou-se uma outra possível villa, situada a 7 km, a Norte de Alcácer, implantada numa plataforma suave, junto à ribeira do Alberginho e próxima da via Alcácer-Lisboa, onde reconhecemos, à superfície, restos de estruturas, edificadas em opus signinum, bem como alguns elementos arquitectónicos, particularmente troços de colunas, e fragmentos de cerâmicas de construção e comuns com pastas grosseiras. Entre as formas reconhecidas realça-se a descoberta de um fragmento de bordo de talha/dolium, cujos paralelos obtidos permitem atribuir uma datação entre os séculos VII-IX, demonstrando uma ocupação Visigótica e Emiral (Leitão, 2023: 75-77).

No cerro mais elevado que se acha junto dos vestígios referidos reconheceu-se concentração de pedras que parecem indicar a existência de um pequeno recinto amuralhado e que, conforme sugere as cerâmicas identificadas no local, poderá ter sido edificado a partir dos séculos V/VI, quando se verifica uma maior instabilidade no Império Romano do Ocidente e a chegada dos povos bárbaros ao território peninsular, mantendo-se a ocupação naquele local durante os Períodos Visigótico e Emiral (Leitão, 2023: 75-76).

Para além das villae, mantiveram-se habitadas algumas aldeias e pequenos casais agrícolas que tinham surgido durante o Período Tardo-Romano e Visigótico, permanecendo mesmo alguns daqueles ocupados depois do fim do Emirado.

A grande alteração que observamos durante o Período Emiral, em relação ao povoamento tardo-romano e visigótico, é o surgimento de fortificações junto ao rio Sado, mas também nas imediações das principais vias de comunicação que uniam Alcácer a outros territórios do al-Andalus e, como consequência dessa nova organização, o aparecimento de novos povoados, alcarias e casais agrícolas (Fig. 1).

Figure 1.

Figura 1 - 1. São João dos Azinhais; 2 e 3. Inscrição, datada de 682/882 d.C.?, e friso encontrados no interior do templo (fotografias cedidas pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Alcácer do Sal). 4. Localização do Povoado do Alberginho; 5. Estruturas visíveis à superfície; 6. Fragmento de Talha/Dolium dos séculos VII-X.

7. Localização dos sítios arqueológicos do Período Emiral (mapa elaborado a partir do QGIS). 1 - Alberginho; 2 - Castelo de Vale de Trigo; 3 - Castelo de Portela; 4 - Torrejão; 5 - Torre de Santa Catarina de Sítimos; 6 - Castelo do Vale de Alcácer de Cima; 7 - Castelo do Torrão; 8 - Castelo de Nossa Senhora da Esperança; 9 - Castelo do Alto de São Vicente; A - Atalaia de Murta; B - Atalaia de Abul; C - Torre de Montevil; D - Torre dos Algarvios; E - Torre de Chagas; F - Atalaia Velha do Torrão; G - São João dos Azinhais; H - Torre do Ramalhão; I - Atalaia da Espadaneira

O ano de 740 marca o início da instabilidade na região em estudo com o começo das revoltas em Galiza e Mérida contra o Califado de Damasco e a chegada ao Baixo Alentejo, particularmente a Beja e Algarve, de árabes, sírios e egípcios, vindos do Norte de África por ordem do Califa Abássida, com a finalidade de reforçar os contingentes fiéis e conter as revoltas berberes (Correia, 2010: 80-89). Nos anos subsequentes as revoltas na área de Beja e Mérida, mas também Lisboa, intensificam-se, sobretudo após a chegada de ˁAbd al-RaḥmānI, em 756, e a criação do Emirado de Córdova, independente do Califado de Damasco (Coelho, 2008: 111-150). O Emir de Córdova teve de conter várias revoltas nas regiões referidas, as quais se prolongaram ao longo do século IX com os emires que se seguiram, tendo-se ainda efectuado campanhas aos territórios cristãos, como a Galiza e Vale do Minho, como retaliação pelos ataques que aqueles efectuavam, como o exemplo da cidade de Lisboa, nos territórios muçulmanos (Makki e Corriente, 2001: 278-311; Coelho, 2008: 148-167).

Alcácer estaria nesta fase integrada na kūra de Beja pertencendo, por isso, o seu território ao ǧund sírio instalado naquela cidade, achando-se, de igual modo, no seio dos vários conflitos existentes naquela altura, uma vez que se encontrava próxima das cidades onde aqueles ocorriam, como Beja e Lisboa, e, sobretudo, as principais vias de comunicação que uniam Lisboa a Mérida, assim como Mérida a Beja, ou Lisboa a Évora e Beja, passavam pelo território de Alcácer. É, portanto, admissível que, a partir de 740, tenham sido erguidas fortificações no território de Alcácer pelas populações hostis aos governadores Omíadas de Córdova para defender o seu território, mas também a cidade de Beja, caso contrário, aquelas comunidades não teriam espaço de defesa coerente e seriam facilmente derrotadas pelos exércitos de Córdova. Porém, é muito difícil arqueologicamente, sobretudo com dados obtidos somente a partir de prospecções arqueológicas, relacionar as fortificações encontradas com a cronologia em questão, sendo necessário efectuar trabalhos de escavação naqueles sítios, tendo em vista identificar espólio associado a testemunhos arquitectónicos, assim como promover a realização de datações por radiocarbono, de modo a obter informações concretas sobre a cronologia daqueles assentamentos.

Apesar do exposto, através do estudo das cerâmicas exumadas, à superfície, em alguns daqueles sítios arqueológicos identificados conseguimos perceber que algumas das fortificações que tinham surgido no Período Tardo-Romano e Visigótico mantiveram-se operacionais nas primeiras décadas do domínio muçulmano. É o caso do Castelo do Torrão, mencionado nas fontes escritas cristãs(), onde foram identificados vestígios de uma possível mesquita e uma necrópole islâmica com enterramentos que remontam aos séculos VIII e IX (Matias et alli, 2016: 14-26; Leitão, 2023: 96-99). Naquele sítio exumámos, tal como o arqueólogo António Carvalho, fragmentos de cerâmicas comuns produzidas localmente, com pastas pouco homogéneas e compactas, fabricadas a torno lento e cozidas em ambiente redutor e oxidante, com decoração incisa, de características emirais, mas também califais (Fig. 2). Aquele dispositivo defensivo controlava o eixo viário entre Alcácer e Beja, mas também entre Lisboa e Beja com passagem por Alcácer, sendo “a porta de entrada” daqueles territórios, mais a Norte, ao Sul do ocidente do al-Andalus, actuais Baixo Alentejo e Algarve (Carvalho, 2008: 20; Leitão, 2023: 395-397).

No Torrão confluíam assim os eixos viários que ligavam Alcácer a Évora e Beja e a partir do cerro, onde se implantava aquela fortificação, é possível ver a Serra da Arrábida e Alcácer, mas também a cidade de Beja e todo o restante Baixo Alentejo, sendo perceptível a importância que aquela teria na defesa daquela cidade e do seu território. Outra fortificação datada do Emirado e com ocupação anterior é a Torre de Santa Catarina de Sítimos, situada também junto à via que unia Alcácer a Évora e Beja, e que controlava o curso fluvial da ribeira de Sítimos, o qual era navegável até ao rio Sado(). Naquele sítio recolhemos fragmentos de cerâmicas comuns que remontam aos séculos VIII e IX, embora a maior parte do espólio seja posterior, e fragmentos de cerâmicas de construção como tégulas, imbrices e telhas de meia cana. Através daquele dispositivo militar é possível ver a cidade de Alcácer do Sal e, na linha do horizonte, a Serra da Arrábida e o Castelo de Palmela, mas também o Castelo do Torrão, a Sudeste, demonstrando, assim, a importância daquela fortificação na protecção dos caminhos que uniam Lisboa, Alcácer e Beja entre si.

Figure 2.

Figura 2 - 1. Localização do Castelo do Torrão na fotografia aérea (Google Earth); 2. Cerâmicas recolhidas junto ao cerro do Castelo do Torrão com uma cronologia nos séculos VIII-XII: A - Jarra, B - Panela; 3 e 4. Muro do possível mihrab? da Mesquita? do Torrão e pormenor do arco, possivelmente ultrapassado e de arquitectura mudéjar, visível no muro da eventual qibla; 5 e 6. Necrópole islâmica descoberta, em 2015, no Torrão (fotos de Era Arqueologia). 7. Torre de Santa Catarina de Sítimos; 8. Cerâmicas identificadas com uma cronologia entre os séculos VIII e XIII: A - Panela/Pote, B - Taça, C e D - Jarrinhos/Jarrinhas.

A Norte de Alcácer, para além da fortificação do Alberginho, implantada junto à via Lisboa, Alcácer, Beja e Évora, manteve-se em funcionamento o Castelo de Portela, uma fortificação edificada provavelmente nos Períodos Tardo-Romano e Visigótico, situado na confluência dos eixos viários que uniam Lisboa, Palmela e Évora, mas também Beja e Alcácer às cidades de Lisboa, Badajoz e Mérida, e cuja ocupação naquele espaço por parte das comunidades muçulmanas se pode justificar pela presença de bário e manganês na envolvência (Leitão, 2023: 75-79).

Em relação à cidade de Alcácer não sabemos se nesta primeira fase do domínio islâmico achar-se-ia ocupada, se encontrar-se-iam fixadas algumas tropas do ǧund sírio de Beja, porém as fontes islâmicas relatam que estaria abandonada quando ali chegaram os Banū Dānis, o que demonstra as fragilidades defensivas daquele território litoral e que facilmente são perceptíveis na primeira metade do século IX, nomeadamente em 828, quando o berbere Maḥmūd ibn ˁAbd al-Ǧabbār e o muladí Sulaymān ibn Martīn se rebelaram em Mérida, conseguindo manter a cidade algum tempo (Makki e Corriente, 2001: 298-303). Naquele período ao deixarem aquela cidade, devido à aproximação dos exércitos de Córdova, Mamūd desceu ao Vale do Guadiana passando por Badajoz, dirigindo-se em seguida para Sul até Beja, onde enfrenta contingentes enviados pelo Emir, avançando depois para a Serra de Monchique, onde permanece algum tempo (Correia, 2010: 160-168). Segue depois em direcção ao Norte do território até Lisboa, utilizando certamente o eixo viário que unia Faro a Lisboa, com passagem obrigatória por Alcácer, encontrando somente resistência ao chegar a esta última cidade do Vale do Tejo, pondo em evidência o mau controlo das zonas litorais por parte dos Omíadas e a ausência de um poder instalado em Alcácer.

Verificamos, igualmente, esta situação uns anos mais tarde, particularmente em 844, quando se dá o primeiro ataque viking na região de Lisboa, prosseguindo aqueles as incursões por Beja e Costa Algarvia, os quais voltam a ocorrer uns anos depois, em 858 e 859, quando aqueles voltam novamente a atacar Lisboa e as costas de Beja, não encontrando nenhuma resistência nestas zonas (Makki e Corriente, 2001: 317-318; Pires, 2017: 70-75). Estes acontecimentos fazem com que ˁAbd al-Raḥmān II proceda à construção de um conjunto de fortificações junto à costa, bem como estaleiros de construção naval, para controlo e protecção daquelas zonas, fazendo com que Alcácer cresça no século X (Correia, 2013: 74).

Acreditamos ter sido a partir do reinado de ˁAbd al-Raḥmān II, com prosseguimento depois no reinado de Muammad I, já com os Banū Dānis à frente dos domínios da cidade, que se procedeu à construção de um conjunto de torres atalaias junto ao rio Sado, de que é exemplo as Atalaias de Murta e Abul, as quais tivemos oportunidade de realizar intervenções arqueológicas, mas também as Torres de Montevil Algarvios e Chagas. Aquelas foram construídas em cerros elevados, junto ao rio Sado, sendo visíveis entre si, ocupando antigos assentamentos da Idade do Ferro e do Período Romano, como é exemplo a Atalaia de Murta, a qual é citada nas fontes escritas cristãs, datadas dos inícios do século XVII, como a “atallaia”(). As sondagens que efectuámos nos dois locais permitiram constatar que os alicerces de ambas as torres, de planta circular, possuem 8 m de diâmetro e foram edificadas com silhares de pedra, preenchidos por pedra miúda e argamassa (Fig. 3). Também a Torre de Odeceixe, em Aljezur, intervencionada por Rosa Varela Gomes, possui um diâmetro de 7 m, valor que se aproxima das estruturas descobertas em Alcácer (Gomes e Gomes, 2013: 156). A pedra utilizada na construção daqueles dispositivos foi extraída da Serra da Arrábida e é composta por calcários da brecha da Arrábida, granitos, basaltos, arenitos, biocalcarenitos e xistos, mas, também, alguns seixos e cascalhos provenientes das costas do Sado e outros cursos de água na envolvência. Todo o trabalho envolvido desde a extracção da pedra na Serra da Arrábida e o seu transporte até àqueles locais, assim como o seu aparelhamento, só seria possível com a intervenção de um poder central ou regional.

As cerâmicas exumadas na Atalaia de Murta permitiram documentar uma ocupação que teve início na Idade do Ferro e Período Romano Republicano, onde possivelmente existiria algum castro, dada a posição estratégica daquele local, seguindo-se uma fase de abandono, voltando o sítio a ser reocupado novamente no Período Emiral, com a construção de uma torre atalaia que assenta os seus alicerces sobre uma estrutura daquela época, até ao Período Almóada. Na Atalaia de Abul foi possível verificar, através das cerâmicas recolhidas, uma ocupação que teve início no Período Emiral e que se manteve também até ao final do Período Islâmico.

Figure 3.

Em termos de disposição no território as Atalaias de Murta e Abul apresentam uma distância entre si de 3 km, embora estejam situadas em margens opostas do rio e, em relação às restantes, todas elas situadas na margem esquerda, como a Torre de Montevil, Algarvios, Chagas e Santa Catarina de Sítimos, junto à ribeira de Sítimos, entre 6 e 7 km. Curiosamente, desde a Torre de Chagas até ao sítio Porches, existe uma distância de 6 km, o que nos faz acreditar, dada a toponímia, apesar de não termos identificado nenhuma estrutura no terreno, da existência de uma outra atalaia que protegeria o troço navegável do rio até Porto Rei, uma vez que a partir de Porches é possível visualizar todo o percurso do rio, desde aquele local até à Serra da Maceira, onde se implantaria a Torre de Chagas.

A partir daquelas conseguia-se obter uma larga amplitude visual sobre o rio Sado e o Oceano Atlântico, observando-se, de igual modo, os castelos de Palmela e Alcácer, assim como todo o percurso navegável entre aqueles, sendo possível, igualmente, a visualização e comunicação entre si, antecipando qualquer movimento que pudesse navegar por aquelas águas sadinas. A existência destes pontos fortificados junto ao Sado, relativamente próximos e visíveis entre si, aliado à existência de uma frota naval permanente, protegiam o acesso à madīna de Alcácer de possíveis embarcações vikings, entre outras ameaças, que pudessem colocar em perigo a cidade e os seus habitantes. Podemos constatar este facto quando, em 966, são avistadas embarcações vikings no rio Sado, sendo prontamente o alerta dado ao Califa pelo governador de Alcácer, demonstrando, assim, a existência de uma boa vigilância permanente daquele curso fluvial (Coelho, 2008: 174-175).

Para além dos ataques vikings, Alcácer sob o domínio do Emirado de Córdova e dos Banū Dānis, logo após a sua fixação na cidade, teve de lidar com as revoltas de muladís e berberes, particularmente de ibn Marwān e os seus apoiantes, que assolavam o Ġarb ameaçando a segurança do território de al-Qar. O foco dessas insurreições era Mérida e Badajoz, porém com saques e pilhagens que se estenderam a Lisboa e a outras regiões a Sul do território, como Beja e Faro, utilizando as antigas estradas romanas que passariam pelo território de Alcácer (Viguera e Corriente, 1981: 81-91). Para além destes conflitos, existia também a ameaça constante dos cristãos do Norte que tentavam alargar a fronteira e reconquistar as cidades do Sul, sendo que uma das maiores incursões que colocaram em causa a segurança do território de Alcácer, durante o Emirado, foi o ataque de Ordonho II a Évora, em 913, culminando na morte do governador daquela cidade e de grande parte da população que ali habitava (Viguera e Corriente, 1981: 81-83). Face a este acontecimento os governadores das várias cidades do Ġarb procederam à restruturação das suas defesas, incluindo, possivelmente, o governador de Alcácer, uma vez que aquela fazia fronteira com a cidade de Évora.

Mesmo após a morte de ibn Marwān, a família daquele e os seus seguidores continuaram a dominar várias cidades que faziam fronteira com o território de Alcácer, como é o caso de Beja que era dominada por ˁAbd al-Malik ibn Abū l-Ǧawād, que fora lugar-tenente de ibn Marwān, e Évora, reconstruída e povoada, em 914, após o ataque de Ordonho II, por ordem do governador de Badajoz, ˁAbd Allah ibn Muammad ibn Marwān al-Ǧillīqī, neto de Ibn Marwān al-Ǧillīqī, sendo o governo da cidade entregue a Masˁūd b. Saˁdūn al-Surumbāqī que possuía laços familiares com os Banū Dānis (Viguera e Corriente, 1981: 81-84; Coelho, 2008: 189-200).

Terá sido neste contexto de conflito, e sob o domínio dos Banū Dānis, que se ergueram uma série de fortificações e torres atalaias ao longo das principais vias que uniam Alcácer àquelas regiões onde se desenrolavam as rebeliões e os saques. Uma dessas fortificações foi o Castelo de Vale de Trigo, situado a Norte de Alcácer, junto ao caminho que unia aquela cidade aos territórios mais a Norte, como Palmela e Lisboa, mas também Évora, Mérida e Badajoz, e cujas escavações arqueológicas que ali realizámos permitiram colocar à vista uma pequena porção do recinto amuralhado Norte, com uma espessura conservada entre 1,60 m e 1,85 m e uma altura de 0,75 m. Aquela fortificação era composta por dois recintos, um situado a Norte, na zona de cota mais alta, e outro no cerro Sul, edificados com silhares de pedra, preenchidos por pedra miúda e argamassa, que terão sido extraídos das Serras da Serrinha e Clérigos, a cerca de 4 km.

Na encosta Norte do recinto amuralhado, onde a inclinação é mais íngreme, é possível observar, entre a densa vegetação, vestígios da passagem da muralha e de uma possível torre que reforçava a defesa daquela zona Norte. Durante as intervenções arqueológicas realizadas não foi exumado nenhum espólio, contudo, a cerca de 600 m a Sudoeste deste local, onde se situava o povoado associado àquele in, encontrámos fragmentos de telhas digitadas e cerâmicas comuns, produzidas localmente, com uma cronologia entre os séculos VIII e primeira metade do XII, abarcando o Período Emiral até ao Almorávida (Fig. 4).

Da zona mais elevada daquele in é possível observar outras fortificações que existiam no território como o Castelo de Portela e Alberginho, mas também o curso do rio Sado, entre a Batalha e Montevil, onde é possível ver, a cerca de 12 km, a Torre de Montevil, demonstrando, desde modo, o papel crucial que aquele dispositivo defensivo teria no controlo e protecção das principais vias de comunicação, mas também na vigilância do curso fluvial, onde frequentemente apareciam barcos dos normandos colocando em perigo a cidade de Alcácer e as comunidades rurais que habitavam o seu território. Face ao exposto, e dada a cronologia das cerâmicas identificadas no assentamento próximo à fortificação, cremos que aquele ḥiṣn terá sido edificado durante o Emirado, após a instalação dos Banū Dānis na cidade, por ordem do Emir Muhammad I, para fazer face às ameaças dos vikings, mas também controlar as forças berberes e muladís que ameaçavam o território. Para além disso, a construção daquela implicou a mobilização de recursos e mão-de-obra especializada, uma vez que a pedra extraída das Serras da Serrinha e Clérigos, teve de ser trabalhada e transportada até àquele local, algo somente possível de executar por um poder centralizado.

Figure 4.

Mais a Norte do território encontramos outras fortificações que terão sido erguidas também nesta altura, nomeadamente o Torrejão, junto à via que unia Alcácer a Lisboa e Évora, e o Castelo do Vale de Alcácer de Cima, junto à via que unia Alcácer ao importante eixo viário Lisboa-Badajoz/Mérida. No primeiro dispositivo defensivo, situado em cerro elevado, junto à ribeira de São Martinho, identificámos fragmentos de cerâmicas comuns, com traços pintados de cor branca e castanha/negra, possuindo alguns deles decoração incisa, assim como um fragmento vidrado, de cor castanha e aspecto melado, inserindo-se o espólio numa cronologia entre os séculos VIII e XIII, abarcando, deste modo, todo o Período Islâmico (Leitão, 2023: 380-382).

Reconhecemos, de igual modo, alguns possíveis alinhamentos de pedras na encosta Poente que sugerem a presença de estruturas e ao observar o cerro do Torrejão ao longe, é perceptível uma plataforma artificial elevada que parece indicar a existência de uma grande estrutura circular no subsolo. Daquele local obtém-se uma excelente visibilidade em direcção a Norte e facilmente percebemos porque aquela foi ocupada ao longo de todo o Período Muçulmano, uma vez que a mesma era essencial na defesa da região Norte de Alcácer, dado que a Serra da Serrinha obstrui a visibilidade naquela direcção. A partir dali visualiza-se o Castelo de Palmela e todo o curso fluvial da ribeira de São Martinho até ao rio Sado, assim como outros pontos fortificados que se achavam dispersos pelo território como a Torre do Ramalhão, Atalaia da Espadaneira e o Castelo do Vale de Alcácer de Cima.

No Castelo do Vale de Alcácer de Cima identificou-se troços de um muro e restos de duas possíveis torres, edificadas em pedra e taipa, já bastante arruinadas. A taipa daquelas estruturas é composta por inertes de pequenas pedras, de reduzida dimensão, tendo sido as extremidades reforçadas com pedras areníticas, algumas aparelhadas e outras não, de grande dimensão, de modo a garantir a solidez. Pela disposição dos vestígios descritos o recinto, de possível planta rectangular, teria cerca de 11 ha. A técnica construtiva ali identificada não se assemelha às construções do Período Almóada, sugerindo a sua edificação em fase anterior, tal como revelou um bordo de jarrinha, fabricado a torno lento e cozido em ambiente redutor e oxidante, que recolhemos no local e que se insere numa cronologia entre os séculos VIII e inícios do XI, datando a construção daquele ḥiṣn, provavelmente, nos Períodos Emiral e Califal (Leitão, 2023: 383-386).

Embora não comum, são conhecidos alguns casos de muralhas construídas em taipa, nos séculos VIII e IX, nas alcáçovas de Toledo e Badajoz, sendo que nesta última, após os ataques do Rei de Leão, Ordonho II, a Évora, no século X, são imediatamente reconstruídas, também em taipa, as muralhas da alcáçova (Torres Balbás, 1985: 560-561; Valdés Fernández, 1985: 145-146, Catarino, 1994: 335-336; Gurriarán Daza, 2004: 300). De igual modo no Castelo Omíada de Gormaz, em Sória, constatou-se, através da análise minuciosa dos panos de muralha, a existência de sectores construídos em taipa de uma anterior fortificação erguida no Período Emiral, a qual terá sido, posteriormente, durante o Califado, reforçada com silhares de pedra e argamassa (Almagro, 2008: 57). Também em Povos, no concelho de Vila Franca de Xira, durante trabalhos de escavação no Santuário do Senhor da Boa Morte, foi identificada uma estrutura defensiva, pertencente a uma fortificação, erguida em taipa, pouco rica em cal, datada dos séculos IX e X (Bugalhão e Fernandes, 2012: 76; Correia, 2013: 80).

A partir daquela fortificação seria possível observar os castelos de Palmela e Montemor-o-Novo, onde passava o importante eixo viário entre Lisboa, Badajoz e Mérida, conseguindo controlar todos os movimentos que pudessem aproximar-se de Alcácer, quer de Poente, quer de Leste, aspecto que seria fundamental durante as rebeliões de Ibn Marwān e dos seus aliados contra o Emirado de Córdova, sendo aquela via bastante utilizada nos ataques realizados a Lisboa.

Outras fortificações que deverão ter surgido nesta altura foram os castelos de Nossa Senhora da Esperança e do Alto de São Vicente, ambos implantados em zonas muito elevadas e quase inacessíveis, com um amplo domínio da paisagem envolvente e reaproveitando anteriores povoados fortificados da Idade do Ferro e Período Romano Republicano. O primeiro situa-se no ponto mais elevado da Serra das Alcáçovas, afastado dos terrenos mais férteis, junto à via que unia Alcácer a Évora, mas também Évora a Beja, usufruindo de um domínio visual estrondoso.

Os trabalhos de prospecção que efectuámos naquele sítio permitiram identificar a existência de dois recintos amuralhados, um que coroa a zona mais elevada, onde está o actual Convento de Nossa Senhora da Esperança e um outro que se distribui pela encosta Leste, observando-se grandes derrubes de pedras que poderão ter pertencido a torres, possuindo ambos uma disposição ovalada (Fig. 5). Em alguns troços é possível verificar que os muros possuem uma espessura de 2,5 m, tendo sido aquele dispositivo defensivo construído em pedra seca, com silhares de pedras de pequenas e médias dimensões, dispostos de forma irregular, ligados por pedra miúda. Alguns silhares apresentam vestígios de argamassa, sugerindo a utilização daquele ligante entre os mesmos.

Figure 5.

Figura 5 - 1. Possível troço de muralha do Castelo do Vale de Alcácer de Cima; 2. Extremidade da face, orientada a Sudoeste, da torre Sul; 3. Planta da fortificação; 4. Jarrinha dos séculos VIII-XI; 5. Castelo de Nossa Senhora da Esperança. Alinhamentos de pedras visíveis, à superfície, no cerro mais elevado da Serra das Alcáçovas, onde se situaria o recinto A.; 6. Troços da muralha Poente, do recinto B; 7. Planta do dispositivo defensivo.

No recinto que se acha no ponto mais elevado, onde está o actual edifício religioso, e onde deverá ter-se centrado, principalmente, a ocupação islâmica, encontrámos alguns fragmentos de telhas de meia cana e cerâmicas que poderão remontar a uma ocupação na Alta Idade Média, nomeadamente, no Período Muçulmano. Tratam-se de fragmentos de cerâmicas comuns, sobre as quais se aplicou engobe de cor castanha, e alguns fragmentos de cerâmicas vidradas, de cor castanha e aspecto melado (Leitão, 2023: 389-392).

A partir daquele é possível observar Alcácer do Sal, bem como o curso do rio Sado, desde ali até à Serra da Arrábida, onde se encontra o Castelo de Palmela, também ele visível a partir da fortificação. Visualiza-se, de igual modo, as cidades de Évora e Beja, tal como outros uṣūn e torres atalaias dispersas pelo território, como o Castelo do Torrão e do Alto de São Vicente, Torre de Santa Catarina de Sítimos, entre outros, o que fazia daquele local um ponto chave no controlo do território entre as cidades de Alcácer, Beja e Évora. A possibilidade de comunicação com as três principais madīnas citadas, assim como com os uūn e torres atalaias dispersas pela paisagem envolvente, oferecia àquela fortificação uma posição privilegiada, permitindo controlar quem circulasse pelas vias de comunicação entre aquelas cidades.

Quanto ao Castelo do Alto de São Vicente, à semelhança do anteriormente descrito, implanta-se em esporão elevado no topo da Serra do Alto de São Vicente, junto ao eixo viário que unia Évora a Beja, nas imediações de Pedras de Água, uma nascente de água, onde fontes orais referem ter sido encontrada uma pedra epigrafada com caligrafia árabe (Galamba, 2012: 56). Naquele sítio foram reconhecidos, à superfície, troços de muros de possíveis muralhas, conservando uma espessura de 2 m, assim como estruturas semicirculares que poderão ter pertencido a torres, edificados com silhares de pedra de pequena e média dimensão. Nas encostas daquela elevação são visíveis desmoronamentos de pedras que se acham alinhados com os muros descritos, sugerindo a presença naquele local de um recinto fortificado com eventuais torres semicirculares adossadas. Ali foram identificados alguns utensílios de pedra polida, um fragmento de tégula e fragmentos de cerâmicas comuns e vidradas, muito rolados, de difícil caracterização cronológica, tendo sido aquelas atribuídas às Idades do Ferro, Período Romano e Idades Média e Moderna (Galamba, 2012: 67-72).

A partir daquele sítio é possível observar, a Norte, o Castelo de Nossa Senhora da Esperança, assim como a cidade de Évora e, nas suas proximidades, o Castelo do Giraldo na Serra de Monfurado. A Sul, vê-se a cidade de Beja, tal como algumas terras do Baixo Alentejo, como por exemplo Ferreira do Alentejo e, a Leste, o Castelo de Portel. O contacto visual daquela fortificação com as cidades de Évora e Beja evidencia a importância daquele local na estratégia de defesa da cidade de Alcácer, uma vez que a possibilidade de visualização daquelas duas importantes madīnas e o facto de se conseguir comunicar com o Castelo de Nossa Senhora da Esperança, implantado na Serra das Alcáçovas onde é possível ver Alcácer, possibilitava avisar, atempadamente, aquela última cidade de eventuais perigos que pudessem aproximar-se da mesma.

Apesar do desconhecimento relativo ao espólio daquele sítio, a sua relação com o Castelo de Nossa Senhora da Esperança, bem como as cidades de Évora e Beja, onde nos séculos VIII e IX, ocorreram acontecimentos políticos e militares de grande relevância, conforme referimos anteriormente, colocam a forte possibilidade de ter ocorrido naquela fortificação uma ocupação Islâmica. O relato da descoberta de uma epígrafe com caligrafia árabe encontrada em Pedras de Águas, embora seja desconhecida a sua localização hoje em dia, assim como os vários topónimos sugestivos, de origem árabe, a sul daquele ḥiṣn, como Monte do Algozim, Herdade dos Alfanges e Horta das Almoínhas, parece indicar uma ocupação islâmica nas imediações daquele dispositivo militar (Machado, 1958: 270; López Cuevas, 2014: 162).

Para além das torres atalaias junto ao rio Sado e dos uūn erguidos no interior do território, surgem, igualmente, nesta fase, algumas torres atalaias que vigiavam os principais caminhos e das quais não restam vestígios visíveis hoje em dia à superfície, como a Atalaia Velha do Torrão, junto ao eixo viário que unia Alcácer a Évora e Badajoz, via Norte, e, via Sul, em direcção a Beja, Faro, Córdova e Sevilha, com passagem pelo Castelo do Torrão. Encontramos referência à sua existência na Chancelaria Régia de D. Dinis onde se faz menção a uma contenda, ocorrida em 1318, entre o termo de Alcácer e das Alcáçovas, um século após a Reconquista Cristã definitiva(). Naquele documento são citados uma série de locais, sendo que alguns daqueles conseguimos identificar na carta militar, o que nos permite relacionar o topónimo “Pena” com o local onde se situou a torre. Entre os topónimos referidos na fonte escrita estão: Venda de Estêvão Negro, Águas Vertentes, Soveral do Penque, Cima do Cerro, Cimalhas de Pampilhais, Vale de Figueira, Vale das Vacas, Trigarias e Atalaia Velha do Torrão().

Os trabalhos de prospecção que realizamos no local permitiram observar grande concentração de pedras no topo do cerro da Penha, bem como alguns dispersos pelas encostas do cerro, que poderão ter pertencido à torre atalaia que ali existiu (Leitão, 2023:131). O facto de as fontes designarem “Atalaia Velha do Torrão”, indica que aquela já teria certa antiguidade e provavelmente já estaria em desuso, podendo remeter ao Período Islâmico. Para além disso, o topónimo “Pena”, referente hoje aquele local, relacionava-se à existência de um posto de vigia, possivelmente aproveitando os afloramentos rochosos existentes na zona, sendo que no território de Málaga aparece muito associado a fortificações islâmicas (Martínez Enamorado, 1996: 57).

Mais a Norte do território achava-se a Torre do Ramalhão, junto à via que unia Alcácer a Palmela e que, de acordo com o topónimo “Torre”, mencionado em fonte escrita, datada do século XV(), provém do latim turris, achando-se normalmente associado a estruturas defensivas tardo-romanas e visigóticas ocupadas, posteriormente, no Período Islâmico (Martínez Enamorado, 1996: 59-63). Durante os trabalhos de prospecção que realizámos no local foi possível reconhecer, à superfície, no topo do cerro mais elevado que ali se encontra, troços de silhares de pedras dispersos que poderão ter pertencido ao dispositivo militar. Identificámos, igualmente, nas imediações daquele, escassos fragmentos de cerâmicas, comuns e vidradas, muito rolados, assim como fragmentos de cerâmica manual, com pasta grosseira (Leitão, 2023: 126).

A Atalaia da Espadaneira tratava-se de outro ponto fortificado situado junto à via que unia Alcácer a Lisboa, Montemor-o-Novo, Badajoz e Mérida. Encontramos referência à sua existência nas fontes da Ordem de Santiago que fazem alusão a uma contenda, ocorrida em 1480, entre o termo de Alcácer e Cabrela a envolver a sua delimitação, onde são referidas uma série de povoações, marcos miliários, antigos caminhos e uma torre atalaia que estaria dentro do termo de Cabrela(), e que pela descrição se enquadra com o actual topónimo “Torres” que se situa junto ao Monte da Espadaneira. A partir daquela era possível observar todo o vale do Sado desde Palmela, passando por Alcácer até perto do Torrão, onde termina aquele curso navegável, conseguindo obter também uma boa visão, em direcção a Norte e Nordeste, entre Palmela e Évora Monte, possuindo claramente um controlo sobre o eixo viário directo entre Lisboa, Badajoz e Mérida, bem como daquelas cidades em direcção a Sul, onde se encontra Alcácer.

Nas imediações das fortificações e torres atalaias situavam-se as villae, aldeias e casais agrícolas que daquelas dependiam, pagando o tributo que depois era entregue à cidade de Alcácer e dali seguiria para Córdova. Para além das villas, povoados, aldeias e casais que se mantiveram habitados desde os Períodos Tardo-Romano e Visigótico, como é exemplo a Alcaria de Portela, implantada em pequeno cerro aplanado e associada ao Castelo de Portela, onde identificámos fragmentos de cerâmicas comuns e alguns pequenos vidrados, de cor castanha, assim como de cor verde e castanha, de aspecto melado, a designada técnica de “verde e manganês”, com uma cronologia que se insere no Período Islâmico, particularmente no Emirado e Califado, tal como no Casal da Maforinha, situado em pequeno cerro elevado, onde exumamos fragmentos de cerâmicas comuns e vidradas com uma cronologia nos Períodos Tardo-Romano e Islâmico.

Surgem, no entanto, durante o Emirado, novos assentamentos implantados em cerros elevados como o Povoado de Vale de Trigo, junto ao Castelo de Vale de Trigo, o qual mencionamos anteriormente, onde recolhemos fragmentos de cerâmicas comuns com uma cronologia entre os séculos VIII e primeira metade do século XII (Leitão, 2023, pp. 438-443). No raio de influência da fortificação referida estava também o Casal Agrícola de Alberge 1 e a Alcaria de São Lourenço. No primeiro identificou-se fragmentos de cerâmicas comuns muçulmanas, nomeadamente um bordo de alguidar e um fragmento de jarro ou jarra, inserindo-se cronologicamente nos finais do século IX e inícios do XI, tendo aquele casal sido abandonado após o Período Califal (Leitão, 2023: 496-499). Na Alcaria de São Lourenço, onde tivemos oportunidade de realizar intervenção arqueológica, foram colocadas a descoberto um conjunto de estruturas pertencentes a um compartimento, como dois pisos, troços de um muro e soleira de porta, assim como um possível silo onde assenta uma mó de grandes dimensões em granito (Fig. 6). Durante os trabalhos recolhemos fragmentos de telhas de meia cana digitadas e fragmentos de cerâmicas comuns com traços de pintura de cor branca e vermelha, mas também cerâmicas vidradas, de cor castanha e aspecto melado, com decoração incisa do Período Islâmico, inserindo-se o conjunto numa cronologia entre os séculos VIII e XII (Leitão, 2023: 465-469).

Figure 6.

Figura 6 - 1. Cerro da Alcaria de Portela: 2. Cerâmicas identificadas à superfície com uma cronologia entre os séculos VII e 1ª metade do XII: A - Talha/Dolium, B - Pote/Panela, C, D e E - Jarros(as) e Jarrinhos(as), F e G - Alguidares, H - asa de cântaro, I e J - Fragmentos de cerâmicas vidradas, de cor verde e castanha, com a técnica verde e manganês?; 3. Cerro do Casal da Maforinha; 4. Cerâmicas identificadas à superfície com uma cronologia entre os séculos VII e 1ª metade do XII: A - Talha/Dolium, B - Taça, C, D, E e F - Jarros(as) e Jarrinhos(as); 5 e 6 Vista Sul e Norte das estruturas colocadas a descoberto na Alcaria de São Lourenço; 7. Estrutura circular/silo? que se acha sob a prensa com fuso em granito; 8. Planta das estruturas colocadas a descoberto; 9. Fragmentos de telhas; 10. Taça.

Outros assentamentos que surgiram nesta altura foi a Alcaria da Azenha Velha, situada no raio de influência do Castelo do Vale de Alcácer de Cima, cujas cerâmicas ali recolhidas mostraram uma ocupação com início no Período Romano e, posteriormente no Período Islâmico, desde o Emirado até ao Período Almóada (Leitão, 2023: 479-484). No raio de influência do Castelo de Torrejão emergiu a Alcaria de Gargolim de Baixo 1, implantada num pequeno cerro aplanado, junto à ribeira da Junceira, onde recolhemos fragmentos de cerâmicas comuns e vidradas, de cor verde, assim como fragmento vidrado, numa das superfícies, de cor castanha e aspecto melado, enquanto na outra superfície, ostenta vidrado de cor castanha, melada e negra, com uma cronologia entre os séculos IX e XIII, comprovando uma ocupação que se manteve ao longo de todo o Período Islâmico (Leitão, 2023: 474-477). Nos arredores do Castelo de Portela, para além da Alcaria de Portela referida anteriormente, surgiu nesta altura o Casal do Cabeço da Mina, implantado em cerro elevado, onde identificámos um poço, de forma cilíndrica e estreita, edificado em pedra, não aparelhada, e argamassa, achando-se o topo revestido com ladrilhos. Curiosamente, aquele apresenta semelhanças formais com o Poço da Hortinhola, em Moncarapacho, onde foram exumadas peças de cronologia islâmica (Gomes, 1998: 33-41). Nas imediações daquela estrutura encontraram-se alguns fragmentos de telhas de meia cana digitadas e fragmentos de cerâmicas comuns com uma cronologia entre os séculos IX e XII (Leitão, 2023: 505-507).

Junto ao rio Sado surgiram, de igual modo, novos assentamentos como o Povoado de Porches 2 e os casais de Sesmarias da Azenha e Monte do Alto, todos eles com uma anterior ocupação romana, provavelmente no Alto Império, e ligados à pesca e actividades portuárias. A Sul de Alcácer, junto ao ribeiro do Arcão, emergiram os povoados Mirassobral 1 e Taralhão 2, assim como a Alcaria de Entre Rios 2, relacionados à exploração mineira do quartzo e caulino existente nas proximidades, conforme sugerem as escórias ali descobertas (Leitão, 2023: 142-185). Naqueles assentamentos foram identificados fragmentos de cerâmicas comum, de pastas grosseiras, particularmente bordos extrovertidos, asas e fundos planos, os quais se inserem numa cronologia no Período Romano e, possivelmente, Islâmico, bem como nas Idades Média e Moderna (Rocha, 2008: 16-20; 2009: 19).

As cerâmicas recolhidas nos assentamentos identificados são constituídas por fragmentos de exemplares comuns, produzidos com pastas grosseiras, com abundantes elementos não plásticos, fabricadas manualmente e a torno lento, por vezes com alternância de cozedura, embora tenhamos recolhido, de igual modo, cerâmicas com pastas homogéneas e produzidas a torno rápido com cozeduras oxidantes, produzidas localmente ou regionalmente, evidenciando poucos contactos comerciais no Período Emiral. O leque de formas é reduzido, onde predominam as peças necessárias no dia-a-dia, como os potes, jarrinhos(as), panelas, alguidares, talhas, normalmente com acabamentos alisados sobre os quais se aplicou engobe e possuindo, por vezes, decoração incisa ou com traços pintados de cor branca, castanha/negra ou vermelha (Leitão, 2023: 273-284).

O modelo de povoamento que observamos em Alcácer durante o Emirado, apesar dos poucos estudos existentes no actual território português, verifica-se, igualmente, no Algarve Oriental onde se constatou uma continuidade de ocupação com a chegada das primeiras comunidades muçulmanas, mas também o surgimento de novas alcarias exclusivamente muçulmanas (Catarino, 1997/1998: 552-555). Porém, não se verificou naquele território o incremento na construção de fortificações como ocorreu em Alcácer do Sal, os quais podemos também documentar em outras regiões do al-Andalus, onde sucederam rebeliões contra o Emirado de Córdova, como nos Montes Ocidentais de Granada e em Jaén, mas também mais a Norte do território, particularmente na província de Guadalajara, onde se constatou, para além do surgimento de novas alcarias plenamente islâmicas, no século IX, o aparecimento de assentamentos de altura fortificados, normalmente implantados em zonas montanhosas inacessíveis e pouco férteis que, os investigadores relacionam com a antiga aristocracia visigoda ou comunidades camponesas que pretendiam escapar à pressão fiscal imposta pelo Emirado de Córdova. Tratam-se de assentamentos não novos, mas que mostram uma ocupação anterior ao século VIII, afastados dos terrenos mais férteis, onde prevaleciam as actividades como a pastorícia e uma agricultura de sequeiro, contudo usufruindo de uma excelente visibilidade da paisagem envolvente e dos principais eixos viários (Castillo Aarmenteros, 1998: 209-212; Contreras Ruiz, 2013: 682-692; Mattei, 2013: 617-629).

No território em estudo não são conhecidas insurreições contra o poder cordovês, à excepção daquelas ocorridas nos territórios limítrofes, nomeadamente no século VIII, com foco na região de Beja, e no século IX com os ataques vikings e as revoltas de ibn Marwān e os seus apoiantes, com grandes repercussões em Mérida, Badajoz, Lisboa, mas também Beja e Faro. Para além disso, os Banū Dānis eram aliados do Emirado de Córdova, tendo sido colocados à frente dos domínios de Alcácer e da Serra da Arrábida, provavelmente, por iniciativa do Emir Muammad I.

Não obstante, temos duas fortificações identificadas no território que se enquadram nos modelos encontrados nas regiões citadas e que divergem, em termos de implantação, dos restantes dispositivos defensivos reconhecidos nos arredores de Alcácer, como o Castelo de Nossa Senhora da Esperança e o Castelo do Alto de São Vicente. Ambos encontram-se implantados nos pontos mais elevados e inacessíveis das Serras das Alcáçovas e do Alto de São Vicente, onde, anteriormente, teriam existido povoados fortificados das Idades do Ferro e Período Romano Republicano, afastados dos solos mais propícios à agricultura e usufruindo de um amplo domínio da paisagem envolvente e das vias de comunicação que ligavam Alcácer a Évora e Beja, assim como Beja a Évora.

Até ao momento não existe dados arqueológicos suficientes, bem como textuais, que permita relacionar aqueles uūn com as comunidades moçárabes, muladís ou berberes que se revoltaram contra o Emirado, ou por outro lado, associar ao poder central ou regional para fazer face a essas mesmas sublevações, mas é possível lançar algumas hipóteses que devem ser melhor investigadas futuramente, com base nas variantes territoriais daqueles sítios e relacioná-los com o contexto histórico. Ora a partir do Castelo de Nossa Senhora da Esperança é possível ver as três cidades importantes, de Alcácer, Beja e Évora, assim como todo o curso fluvial do Sado até ao Castelo de Palmela e, do Castelo do Alto de São Vicente, para além de se visualizar claramente o Castelo de Nossa Senhora da Esperança, vê-se, de igual modo, Beja e Évora. Notamos que o promontório da Serra das Alcáçovas obstrui bastante a visibilidade de Alcácer sobre o que se passa a Leste e Nordeste do território, onde está a cidade de Évora que, como sabemos, não está muito longe de Mérida, onde existiam os focos de revoltas e onde tinha ocorrido o massacre de Ordonho II, possibilitando a comunicação com o Castelo do Alto de São Vicente, uma melhor visualização sobre aquilo que ocorria no actual Baixo Alentejo, onde está Beja, Moura, Serpa, entre outros locais.

São duas fortificações que seriam fundamentais para a defesa do território de Alcácer e Serra da Arrábida através da vigilância e controlo dos territórios limítrofes como Beja e Évora. Portanto, há aqui a possibilidade sim, de numa primeira fase, aquelas fortificações terem sido erguidas por aristocratas visigodos ou camponeses que pretendiam escapar da carga fiscal ou por medo da instabilidade da época, porém que nunca se terão rebelado contra os Banū Dānis ou Emir de Córdova, dado que não há registos sobre isso, mas que, por outro lado, poderão ter estabelecido alguma aliança entre si, mediante concessões e alívio da carga fiscal, tendo sido incumbido a esses senhores, que governavam as respectivas fortificações e que tinham sob o seu domínio algumas alcarias e casais agrícolas, a defesa do território de Alcácer contra as várias ameaças que poderiam perturbar a segurança da cidade e do seu território. As características inerentes daqueles uūn terão feito com que os mesmos se tenham mantido ocupados nos séculos seguintes.

De acordo com os dados arqueológicos concluímos que, a partir do século VIII, com a chegada das primeiras comunidades muçulmanas, não houve uma ruptura com o modelo de povoamento disperso que já existia desde o Período Tardo-Romano e Visigótico, mantendo-se algumas das villae ocupadas, assim como as fortificações, povoados de altura, aldeias e casais agrícolas que tinham surgido anteriormente. Constata-se, contudo, um investimento na fortificação do território, sobretudo junto ao rio Sado com a instalação de um conjunto de torres atalaias, particularmente a partir de 844, devido aos ataques vikings, mas também na construção de uūn para protecção dos principais eixos viários e para defender os territórios das rebeliões de muladís, berberes e moçárabes que ocorriam nesta altura nos territórios limítrofes de Alcácer, como Beja e Lisboa, contra o Emirado de Córdova, mas também para conter as ameaças dos cristãos do Norte, sendo o exemplo mais ilustrativo o ataque de Ordonho II a Évora, em 913, que colocou em alerta grande parte do Ġarb.

Surgem em redor daqueles ḥuṣūn e torres atalaias novos povoados, alcarias e casais agrícolas, implantados normalmente em zonas elevadas ou num pequeno cerro aplanado, juntos dos cursos de água e solos mais férteis, baseando-se as explorações agrárias, não somente em pequenas áreas restritas do solo, como anteriormente, mas começando a incrementar uma agricultura de regadio direcionada para os excedentes agrícolas. Nalguns daqueles povoados e alcarias produzia-se o azeite, tradição que já vinha deste Época Romana, conforme documentamos no Povoado de Vale de Trigo onde abundam as oliveiras centenárias nas redondezas, mas também na Alcaria de São Lourenço onde encontrámos uma mó de lagar de grandes dimensões. Junto à Serra da Serrinha, onde existia bário e manganês, as comunidades que ali habitavam, particularmente nas Alcarias de Portela, Gargolim de Baixo 1, Casal do Cabeço da Mina exploravam aqueles minerais e dedicavam-se, possivelmente, à pastorícia, à semelhança dos povoados de Mirassobral 1 e Taralhão 2, assim como a Alcaria de Entre Rios 2, situados junto ao ribeiro do Arcão, nas proximidades de minas de quartzo e caulino. Junto ao rio Sado surgiram outros povoados e casais agrícolas que se dedicavam às actividades ligadas ao rio, como a pesca, a extracção do sal, e o seu transporte via fluvial.

É, portanto, a partir do século IX, que a presença do poder emiral, através da construção de uma rede de fortificações no território e, posteriormente com a chegada dos Banū Dānis, se faz sentir em Alcácer do Sal, culminando numa organização territorial que conferia protecção à cidade e às comunidades camponesas que viviam nos núcleos rurais. A partir deste momento dá-se um grande crescimento urbanístico e económico na madīna de al-Qar, o qual se irá prolongar pelo Califado, até pelo menos aos Reinos de Taifas e Período Almorávida, que é perceptível através do seu território com o surgimento de novos assentamentos que exploravam as minas e os terrenos férteis, junto aos cursos de água, dedicando-se, de igual modo, à pastorícia, possibilitando o abastecimento dos mercados da cidade.

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  1. I ntrodução
  2. Contexto geográfico e histórico
  3. A organização do território durante o E mirado
    • Villas e fortificações Tardo-Romanas
    • Torres a talaias nas imediações do rio Sado
    • u ū n erguidos a partir do século IX, sob o domínio de Córdova e dos Banū Dānis
    • Torres que controlavam os eixos viários
    • Assentamentos rurais
    • Fontes manuscritas:
    • Fontes impressas:
    • Bibliografia
  4. Considerações finais sobre o modelo de povoamento no Emirado
  5. Fontes e b ibliografia

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Cómo citar

LEITÃO, M. (2024). El asentamiento emiral de Kūra de al- Qaṣr (Alcácer do Sal, Portugal). Al-Andalus Magreb, 31, 25–48. https://doi.org/10.25267/AAM.2024.v31.102

Citas

Fontes e bibliografia

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